Estrépito

18/07/2011 11:12

Eis um Texto que recebi de um amigo bom e velho! Faz um tempo que o recebi mas agora vou compartilhar a qualidade desta pequena cronica com vocês! 

Estrépito: s. m. Ruído forte, estrondo, fragor.Rumor, agitação, tumulto.

 

Com ruído forte, um estrondo, começa a surgir rumores. Há agitação. Inicia-se o tumulto. Apartir desse aglomerado de pessoas surgem  os  voluntários; que agem sem constrangimento, sendo espontâneos e agindo de acordo com si próprio, junta-se a este grupo os indiferentes; que não se comovem que não se importam desinteressados e apáticos. E por fim e sempre em grande maioria os curiosos; indivíduos indiscretos com sua grande vontade de saber e ver o que se passa.

O relógio de pulso é observado, são 15h18min da tarde de uma quinta-feira, o indivíduo está caído e instável, com um pedido retórico. Pede por ajuda... Pede por socorro!...

Forma-se um círculo, os voluntários se agitam para responder ao pedido de ajuda, os curiosos se perguntam o que houve e o que está havendo enquanto os alheios apenas fazem “caras e bocas”.

O pulso vai de encontro aos olhos e já são 15h29min, o primeiro relato parte de uma figura inusitada, um homem de cabelos e barba  grisalhos, conta sobre olhares atentos e dispersos de como  se lançou ao encontro do indivíduo e com seus braços amorteceu a queda e agora, o acaricia tentando lhe trazer calma e segurança. 

É sarcástico como se encontra humanidade nas pessoas mais inesperadas, o mesmo homem que lançou seus braços em apoio, tenta se reerguer, mas não encontra forças. Pede por uma mão estendida, por um auxílio. Motivo; a grande quantidade de álcool ingerida.

São 15h43min os olhares se fixam em um personagem que até então se mostrava discreto, deitado sob seu carrinho de bebê, a criança se mantêm tranqüila e silenciosa. Sua presença só é notada, devido o indivíduo repetir por várias vezes de forma agonizante; “cadê o meu filho, meu filho”...

O celular marca 16h04min, os voluntários através de suas ações obtêm resultado. Chega à ajuda de forma quase mútua, uma viatura/dois homens, cientes, acionam o rádio e pedem apoio para o “195”, em seguida mais dois homens que são de um quartel do corpo de bombeiro próximo ao local, veêm em auxílio e os primeiros socorros são iniciados, enquanto, todos aguardam a ambulância com os para-médicos. Os sinais vitais são chegados, existe a princípio uma preocupação, uma cautela, que logo é dissipada com a confirmação do próprio indivíduo, “havia consumido bebida alcoólica”. A expressão nos rostos é de total reprovação, desanimo e desgosto. Após a confirmação que o mau-súbito daquele indivíduo não o levaria a morte ou pelo menos não naquele lugar ou naquele momento, ocorreu um relaxamento, uma displicência.

Em meio ao trânsito surge o sinal do socorro, a sirene toca pedindo caminho, soando emergência, ecoando pressa a maca é retirada do veículo e o procedimento de sinais vitais é checado novamente. Agora os para-médicos conversam entre si e a maca retorna ao veículo sem o indivíduo que continua caído ao chão. A ambulância tão esperada agora se encontra parada há alguns minutos, sem menção de prestar socorro por ser apenas  mais um caso de consumo de bebida alcoólica sem refeição matinal. 

E assim tudo terminaria com um copo d’água!

Mas para a surpresa dos para-médicos, eles se abatem ao se depararem com a vítima, a real vítima, aquele cujo personagem é discreto e está alheio e com olhos arregalados a tudo observa e nada compreende, permanece em seu silêncio, brincando com sua mãos.

 

A maca retorna, a mãe é levada para a ambulância, junto com o seu filho e sob um sorriso singelo é colocado com cuidado e em segurança no veículo, que parte...  

As pessoas que ali estavam e vivenciaram todo o acontecimento agora se espalham, tomam seus caminhos, o desfecho da história já não terá importância, os motivos que levaram uma mãe sem embriagar quando passeava com seu filho, faz dela aos olhos dos que presenciaram somente uma irresponsável. O desfecho da criança poderá ser contado por pessoas próximas ou estranhas em outra situação. Se ele será levado para a assistência social, se vai trilhar os caminhos de sua mamãe, somente ele construirá sua própria história. Como este, é assim, em outros casos depois que o tumulto se dissolve, as pessoas voltam para o seu cotidiano fazendo daquilo só mais um conto sem grande relevância. 

Não há mais aglomeração, o relógio marca 16h21min, o balco, um bar de esquina com ar tradicional em uma velha rua que já não ostenta mais a beleza nem a grandeza de décadas  passadas, faz hoje parte de um centro velho  de uma cidade que é o coração financeiro de um país  emergente. E tudo que  ali ocorreu  já e passado.

Faelante Souza